CHICANEIRA

Não aos tabus!

Wednesday, October 20, 2004

Estamos as duas no terraço de um prédio com 10 andares. Está frio. Estamos agasalhadas. A Ana já está em cima do muro que separa o chão do vazio do ar. Olho para ela com apreensão. Sempre foi destemida, mas acho porque sempre foi um pouco suicida. Nunca deu muito valor à vida. Ou pelo menos é o que ela faz transparecer não sei. Mas o que é certo é que esta miúda sempre gostou de desportos radicais e de fazer tudo aquilo que é considerado, pelo senso comum, como prejudicial para a saúde. Mas hoje também eu me vou sentar no muro. Eu que sempre fui a cautelosa, que sempre vivi segundo as regras. Hoje também eu me vou sentar no muro. A Ana observa-me em silêncio, e não profere qualquer comentário durante algum tempo. Puxa dos seus cigarros e oferece-me um. E ali ficamos as duas, a fumar, na linha que separa a vida da morte. Quase que a qualquer momento uma de nós, entre uma passa no cigarro, pode dizer: «Vamos saltar?» e a outra: «Sim, bora.» E, sem mais nem menos, e sem dramatismos ou comentários adicionais, saltamos, pura e simplesmente.Mas não. Continuamos a fumar os nossos cigarros, e ajeitamos os casacos, porque está frio. «O que tens?» Finalmente a Ana pergunta-me. Depois de dar mais outra passa no cigarro respondo-lhe: «Abortei.». «O quê?!». A minha resposta quase que a faz desiquilibrar-se e cair para o lado do vazio. Perante esta possibilidade que lhe acorreu, a mesma limita-se a emitir um esgar de sorriso e continuar: «Nunca me disseste nada! Como é possível? Passaste por isso e nem sequer me disseste nada. Não pediste a minha ajuda! Merda!» E torna a dar outra passa no cigarro enquanto que olha o vazio: «Agora vais-me dizer que coninhas do pai é o trambolho que te deixou recentemente não? Sacana, engravida-te e…» «Sim. É ele… Mas… Eu não recorri a ti porque… porque… olha… porque foi há seis anos…». «Há seis anos?!?». «Sim! Há seis anos! Não percebes…». Mas ela percebeu. Ela percebe-me mas nada diz quanto isso. Não tenta mudar-me apenas acompanhar-me, fazer parte da minha vida. Mas tudo o que o André pedia para fazer eu fazia. Inclusive abortar de uma criança que eu tanto queria, mas para ficar com ele acedi. Desde mudar de casa, mudar de emprego, sair do emprego, vestir roupa mais adequada, só sair com os amigos que ele queria, enfim… Sempre fui um pau-mandado do André que agora deixou-me por causa de uma putéfia qualquer. E no meio da nossa discussão implorei, supliquei:«Eu não posso viver sem ti!» Ao que ele me respondeu: «Se não podes mata-te e fica o assunto resolvido!». Começo a sentir-me tonta. Sem saber para que lado está o chão, tendo apenas o muro como algo de sólido, quando sinto o corpo de Ana cair sobre o meu, sou atirada para o chão duro do terraço. «Onde é que pensavas que ias Gui? Ainda temos outro cigarro para fumar.»


Volta e meia venho aqui ao meu blog ver se o mesmo tem alguma alteração... Depois de repente lembro-me: sou eu que escrevo nele!
Então aqui vai: ando fascinada com os PLUTO!
Tenho dito.

Monday, October 11, 2004

Hoje o vazio penetrou no meu corpo. Foi à noite. No escuro. Quando ninguém estava a ver. Nem mesmo eu. Estava deitada de barriga para cima. Sem dormir. Os meus olhos fixavam o tecto que não via. E devagarinho, subrepticiamente penetraste no buraco que se abriu por entre os meus seios e que depois fechou. E ali ficaste, alojado, em forma de sopro de ar que percorreu todo o interior do meu corpo. Como se não existissem orgãos. Nada existisse lá dentro, apenas um sopro de ar frio que me fazia pele de galinha e uma dor imensa, quase infinita, a do vazio.
Mudei de posição e coloquei-me em posição fetal, agarrei todo o meu corpo como que numa tentativa desesperada de preencher o vazio, de tirar a dor. Mas ali ficaste e não saíste.
Pedi-te compaixão e clemência, porém, não acedeste. Insististe em percorrer vezes e vezes sem conta o meu corpo para me lembrar, sem dó nem piedade, do meu vazio.

Sunday, October 10, 2004

WINTER
TORI AMOS
Snow can wait
I forgot my mittens
Wipe my nose, Get my new boots on
I get a little warm in my heart
When I think of winter
I put my hand in my father's glove
I run off where the DRIFTS GET DEEPER
Sleeping beauty trips me with a frown
I hear a voice,
You must learn to stand up for yourself
Cause I can't alyways be around
He says...
When you gonna make up your mind
When you gonna love you as much as I do
When you gonna make up your mind
Cause things are gonna CHANGE so fast
All the white horses are still in bed
I tell you that I'll always want you near
You say that things change my dear
Boys get discovered
as winter MELTS
Flowers competing for the sun
Years go by
and I'm here still waiting
Withering where some snowman was
Mirror mirror
where's the crystal palace
But I only can see myself
SKATING around the truth who I am
But I know, dad, the ice is getting thin
When you gonna make up your mind
When you gonna love you as much as I do
When you gonna make up your mind
Cause things are gonna CHANGE so fast
All the white horses are still in bed
I tell you that I'll always want you near
You say that things change my dear
Hair is grey
and the fires are burning
So many dreams on the shelf
You say I wanted you to be PROUD of me
I always wanted that myself
When you gonna make up your mind
When you gonna love you as much as I do
When you gonna make up your mind
Cause things are gonna change so fast
All the WHITE HORSES have gone ahead
I tell you that I'll always want you near
You say that things change my dear
Never change
All the white horses