CHICANEIRA

Não aos tabus!

Monday, August 08, 2005

Lucia olhava-o de frente. Impassível e determinada não desviava o olhar. Nem mesmo após a ameaça proferida que, cumprida, levaria de si uma das suas principais razões de viver. Porém, mesmo sem razões ela viveria. Até por despeito ao pai. Sim. A ameaça vinha do seu próprio pai: Andrea Montechio, um dos principais barões da Mafia na Sicilia, com negócios além-mar.Tinha-a a chamado ao seu escritório. A chamada ao local onde as decisões eram tomadas não augurava nada de bom. Era um escritório austero, com móveis em madeira de pinho antigos, pesados, em estilo inglês. Ao centro do escritório a secretária, pesada e alta, sem quaisquer ornamentos ou bibelots por de cima do seu tampo. Por detrás da secretária uma cadeira em pele preta e o homem mais importante da Sicilia, o seu pai. Lucia estava de fronte dele e em pé, não quis sentar-se.- Aquilo que me estás a pedir é-me impossível concretizá-lo. - o seu pai não tinha pedido, tinha expressamente emitido uma ordem, e Lucia sabia-o, mas queria ganhar tempo, tinha que pensar rápido numa saída que, de momento, não conseguia encontrar.- Ora, ora minha filha. O Nestor não é assim tão desagradável... E terás uma vida de rainha, sabes bem disso. Além do mais, ele trabalhará tanto que terás dias e dias só para ti, para poderes estar com os teus amigos, fazeres a tua vida... Bem como pretendo desde já doar-te em vida, ainda antes do casamento, parte da minha considerável fortuna, assim serás uma mulher independente, casada e com poder. Que poderás querer mais? - Enquanto proferia estas palavras, Andrea estudava a sua única filha. Uma mulher poderosa e destemida. Porque não nascera homem raios?! Dessa forma não teria que se preocupar com a continuidade da distania Montechio. Os negócios - lícitos e ilícitos - estariam muito bem seguros com o seu filho, mas com a personalidade e feitio de Lucia. Mas não. Após a gravidez de Lucia a sua mulher Lourdes sofreu complicações de parto e não mais pudera ter filhos. Andrea, que não era muito dado a infidelidades, depressa desistiu de gerar filhos bastardos, que poderiam eventualmente causar «guerrilhas» dentro da própria familia. Não. Desde cedo Lucia revelou que iria tornar-se uma bela mulher pelo que não seria dificil arranjar-lhe pretendentes. O que de facto veio a acontecer, porém, com a personalidade obstinada e forte do pai, disposta sempre a enfrentar tudo e todos. E agora ela estava perante mais um outro desafio: ou optava por casar-se com Nestor, ter uma considerável fortuna, poder e prestigio, e uma vida ilícita mas consentida pelo pai com o amante Giacomo, ou este, com quem Lucia mantinha uma relação há já algum tempo, teria um final premeditado mas limpo, e Lucia seria eventualmente forçada a uma clausura estudada, até quebrar a sua vontade, e decidir a casar-se com um qualquer homem importante de uma outra família estratégica. Teria que ser assim e não haveria qualquer volta a dar a esta equação.

- Para quando o casamento forçado meu pai?Andrea sorriu, mas por dentro não sorria. Continuava a estudar a sua filha e as suas reacções. Ela não iria «entregar os pontos» facilmente. Deveria estar simplesmente a ganhar tempo. Ou não. O que é que ela podia fazer afinal? Ela não tinha quaisquer opções e sabia-o: sem amigos - pelo menos daqueles que não pertencessem à familía... - e sem o Giacomo que obviamente desapareceria de cenário mal Andrea piscasse os olhos, e sem ter onde fugir, dado que os seus «tentáculos» eram omnipresentes.
- É tudo uma questão de alguns meses... Afinal de contas precisas de noivar. Não quero que as outras pessoas pensem que casas com o Nestor para esconder uma gravidez indesejada de um qualquer outro homem. O teu filho terá de ter um nascimento legítimo, a fim de poder governar legitimamente a nossa família e a família do teu marido. Será uma união histórica. - Andrea ignorou a ironia da sua filha e dava já como adquirido que mais tarde ou mais cedo a sua filha iria ceder. Seria apenas uma questão de tempo e de alguns pontapés e esperneios pelo meio. Mas ela iria ceder. Só que Andrea esqueceu-se que nos 24 anos de vida de Lucia esta seria a primeira vez que ela iria ceder...

- Tudo bem Andrea Montechio. Seja feita a sua vontade. - E olhou-o nos olhos, com despeito. Mesmo obedecendo-lhe Lucia queria demonstrar que não o respeitava. «Merda! Vou ter que pôr um travão nesta minha filha» pensou Andrea. Uma boa tareia até não seria mau pensado. Se bem que no caso da sua filha tal já tinha acontecido e veio e revelar-se contraproducente. Aliás, teve o efeito indesejado. Foi na altura dos seus 16 anos. Lucia tinha-se tornado já numa jovem mulher: pernas altas e esguias, morena, curvilínea, um olhos negros e grandes, rodeados por pestanas fartas e reviradas. Uns lábios vermelhos bem delineados, sempre prontos a dizer o que a mente ou a vontade pretendiam. Mas Lucia não era assim tão faladora. Revoltada com a sua proveniência - família Montechio - era porém irreverente, e sempre pronta ao escândalo e em ir contra tudo que fosse já institucionalizado. Questionava até a posição das pedras da calçada, se tal fosse necessário, ou para aí estivesse virada. Mas do que ela gostava mesmo era de ir contra o seu próprio pai...

E logo após os seus 16 anos feitos tal aconteceu, mais uma vez. Lucia frequentava um colégio da Sícilia. Tinha saído recentemente de um colégio interno da Suiça, frequentado só por raparigas. Saiu de lá pura e simplesmente por mau comportamento (cuidadosamente mais agravado a fim de sair do colégio o mais rapidamente possível): fugas planeadas a meio da noite para ir aos bares da cidade, cigarros e charros encontrados na sua cama, piercings e tatuagens em todas as raparigas da sua ala, assédio aos professores masculinos - em que inclusivamente um deles chegou-se a apanhar na teia e teve que terminar o seu contrato de trabalho mais cedo do que o previsto. Era o Roberto Manzi, professor de Filosofia. Proveniente de Itália como ela, cedo se apercebeu que Lucia deveria vir de uma família perigosa e poderosa, por isso preocupou-se sempre em manter-se, quanto possível, o mais afastado dela. Mas Lucia, no fim das aulas, teimava em pedir-lhe esclarecimentos quanto a Kant, Hegel, Nietzsche e tantos outros. E enquanto falava com ele arranjava forma de se aproximar, sentando-se ou apoiando-se em cima da secretária, deixando antever um pedaço de carne inadvertidamente solto dos seus vestidos. Os seus cabelos pretos cuidadosamente penteados e negros bailavam para cá e para lá, como se o quisessem hipnotizar. E cedo as freiras e colegas já falavam da paixão proibida entre aluna e professor. Não tardou para os dois serem apanhados em flagrante delito nas cavalariças, no meio do feno. Professor e aluna foram rapidamente «despachados» do colégio. Nem mesmo a família Montechio conseguiria aguentar a sua filha naquele colégio de freiras, em virtude das suas dádivas generosas. Uma vez que Lucia estava a dar cabo, de forma vertiginosa, da reputação daquele colégio. Lucia veio satisfeita para casa e não se preocupou em nunca mais ver o seu professor filósofo, aquele que foi o primeiro homem da sua vida. Mas Lucia nunca teve ilusões e nem sequer estava verdadeiramente apaixonada: Roberto Manzi certamente seria só o primeiro, mas não o último... Longe disso...

E naquele colégio da Sicilia estava Giovanni Mezzo. Um jovem rapaz siciliano, provindo da família rival dos Montechio. Ambas as famílias tinham já os seus negócios delimitados territorialmente, pelo que estavam naquela altura numa paz fria, ténue, calculada e premeditada, que duraria enquanto os territórios respectivos não fossem invadidos.
E Lucia tinha a capacidade de antecipar a guerra: encontrou em Giovanni um amor proibido, pelo que era deveras irresistivel e superior à sua vontade. Teria de o ter. Seria como a Julieta e ele como o Romeu.
Começaram por trocar olhares e bilhetinhos. Depressa Giovanni Mezzo já estava totalmente apaixonado. Os Mezzo, apesar de já saberem do interesse do seu filho e de um romance iminente não estavam preocupados. Não passavam de miúdos. E cedo acabaria o romance. Bastaria a família dar uma ordem.
Mas já não seria assim com Lucia. Andrea teria que estar em cima daquele dois e agir com todas as cautelas. Pensou em mudar Lucia de colégio, mas para onde? Enquanto pensava num possível destino para a sua filha, esta já tinha consumado o amor adolescente com Giovanni. Foi numa tarde de Verão, as aulas estavam quase a terminar. Os alunos dirigiam-se para a sala de aula, para mais uma hora de Português, quando Giovanni sente a sua boca ser tapada e é puxado para uma casa de banho. No escuro da entrada da casa de banho estão uns olhos negros profundos a olhar para os dele. Uns lábios vermelhos que lhe sussurram: «Está quieto. Não te mexas.» Ficam os dois quietos à espera que os colegas entrem na sala de aula. Depois Lucia puxa-o para dentro da casa de banho, fecha a porta por dentro e os dois, naquela casa de banho fria e fedorenta, vivem momentos intensos de paixão.
Mas nessa mesma noite as famílias já sabiam que os dois tinham faltado, em simultâneo, à aula de Português.
Lucia foi chamada, pela primeira vez, ao escritório de seu pai:
- Eu proibo-te de veres ou falares mais com Giovanni!
- Seja feita a sua vontade meu pai... - E Lucia ria enquanto dizia aquelas palavras. Era óbvio que a mesma não pretendia deixar de ver Giovanni. Nem que tivesse que passar a pertencer à outra família. Agora, mais do que nunca, pretendia Lucia manter o seu romance com Giovanni.
- Eu não te admito esse tom! Tu vais deixar de ver Giovanni, quer queiras ou não!

E as aulas estavam a terminar. Numa mesma tarde de Verão, numa mesma ida para a aula de Português, Lucia esperava que Giovanni passasse para poder por-lhe as mãos à boca novamente e consumar, uma vez mais, o seu amor adolescente. Enquanto Giovanni passava à sua frente foi a sua boca que foi tapada e foi ela que foi puxada para a casa de banho. Levou uma tareia forte dos dois homens que trabalhavam para o pai e que já conhecia desde pequena. Um deles, Angelo, pedia-lhe desculpa baixinho enquanto lhe batia. O outro, Domenico, olhava-a com o olhar lânguido de sempre, porém noutras alturas indecifrável, mas desta vez era claro: pedia-lhe desculpa por só poder bater-lhe e não violá-la. Este desejo da parte de Domenico não foi indiferente a Lucia, e esta iria usar mais tarde ou mais cedo esse trunfo a seu favor.

Mas ali ficou ela. Após 15 longos minutos de tareia estendida no chão. Com a cara desfigurada dos hematomas e agarrada a sua barriga, em posição fetal no chão frio da casa-de-banho.

Friday, August 05, 2005

Querida star:
Conforme o prometido, aqui vão mais «achegas» ao diário de bordo das minhas férias. Mas como hoje apetece-me contar uma história que está «encasquetada» na minha cabeça vou-te dar apenas palavras soltas, que se me aparecem ao sabor do vento e da liberdade, como se fosse um jogo, que cabe a ti, com a tua imaginação, completar: férias, sol, calor, quente, dores de cabeça, risos, cumplicidade, noite, pizzas, rede, compras, leitura, sonhos, descanso, família e amigos, kizomba, salsa e merengue, sensualidade e liberdade, saudades, Eric.
Tenho dito.
Amanhã escrevo mais. E de uma forma menos telegráfica.

Tuesday, August 02, 2005

Prometi-te que escrevia.
Então cá estou eu.
Para escrever e contar-te a minha jornada de férias.
1º dia:
Foi sábado. Dia 31 de Agosto.
De manhã levei a minha mãe ao dentista, a Cascais. Na sala de espera estive a lutar para completar mais um Su Doku. Um jogo novo que apareceu e que agora está em quase todas as revistas e jornais. É um jogo inteligente. Até eu conseguir completar o difícil. Até agora só consegui completar os médios. Quando chegar aos dificeis o dito jogo deixa de ter a sua piada. Ou não. Hum...
Depois fui trabalhar. Boa maneira de começar as férias não será? Sim. Fui trabalhar. Deixar umas coisitas em dia para vir descansada de férias. Ao menos o trabalho que esteja arrumado. Já o resto... Conto com as férias.
E, ainda antes de pôr os pés em casa fui até à casa do meu irmão. Queria ver o meu tesouro. A Teresa. Aos recem-nascidos continuo a não achar grande piada (com a excepção óbvia da Teresinha). Se bem que me passo sempre que pego ao colo algum. É mágico. E recordo-me sempre. De todos os meus primos sei em quem peguei ou não ao colo, e em que situação foi: A Carolina no carro. Estava a dormir e eu acariciava os seus cabelos. O Tiago em Barreiros, por detrás de todos os montes, e na varanda, ainda de madeira, a ver o por do sol. O Eric... O meu tesouro. É o meu afilhado. Já te tinha falado dele? Vou vê-lo agora em Agosto. Meu deus! Como tenho saudades do meu puto. Ele é lindo. Já não o vejo há quatro anos. Sinto saudades de brincar com ele. Puxá-lo para mim, cheirar-lhe o cabelo e chamar-lhe a minha cabecinha de pêssego. Sabes? Ele ao telefone disse-me que gostava de mim desde a Suiça até África. Num português espanholado e misturado com alemão. Teve que ter a tradução da mãe. Mas disse. E só num posterior telefonema disse-lhe que gostava dele daqui até à lua. O malandro (e inteligente) respondeu-me que até ao infinito. Fiquei a perder. Ou não.
Mas estava eu a falar da Teresa. Adoro ficar a olhar para ela. A dormir. A comer. A chorar. A rir. Se bem que a chorar dá-se-me um apertozinho no coração. Daqueles a que eu tenho que me habituar. Sou limitada. Mas se fosse por mim nunca sofrerias qualquer dor. Porém não tenho esse poder. Mas sou tua tia gajinha pequenina. E muitos filmes, bonecos, barbies, peluches, armários, sonhos e contos quero eu partilhar contigo.
Ora vamos apanhar o fio à meada.
Fui ver a Teresa. Despedi-me da miúda. Ela deve vir cá a Aveiro agora em Agosto, se bem que não sei se estou cá ou não. Se calhar vou a Espanha (em zona ainda a decidir) com o meu primito Pedro. É um primo cinco estrelas.
Depois vim para casa fazer a mala, da forma típica e como eu gosto: até encher tudo vale pôr lá dentro. Depois tentam-se preencher os espaços vazios de lado da mala, bem como os bolsos que se encontram por fora. Já sem me lembrar o que pus lá para dentro, depois da mala estar completamente cheia, começo a reparar que ainda ficou muita coisa por levar. Desta vez decido que são duas as malas que quero levar. E o procedimento é o mesmo.
2º dia
6 da manhã... Domingo
A minha mãe tem pânico de andar na estrada devido ao acidente terrivel que teve, por isso, tanto eu como o meu pai tentamos ser compreensiveis e lá acordámos àquela hora. Partimos às 6h30. Adormeci no bólides (ainda sem nome porque é o do meu pai. O meu chama-se Lucas Manuel como sabes. Bene. Vou Baptizá-lo: Necas) com a boca aberta e a descair. Acho que não me babei pelo menos. O resto do dia foi calmo. À conversa com as primas. Uma caminhada pela Pedreira. E uma leitura voraz do livro «Qualquer coisa de bom» de Sveva Casati Modignani. Acho que é assim o título do livro. Já o li. Em apenas dois dias. É uma leitura fácil e simples, e que apela ao coração. Ela é uma escritora ternurenta. Devorei o livro, pronto.
3º Segunda
Tentámos ir à praia. Vento.
Fomos às compras para Aveiro. Não consigo me decidir a comprar uma colcha (quero a cor certa para embrulhar os meus sonhos). Andei a cuscuvilhar várias lojas mas não me conseguia decidir. A minha cama aqui em Aveiro é enorme sabes? Tem 1,60 por 2,40. Acho que é assim. Só sei que me rebolo nela cá com uma pinta. Adoro dormir numa cama enorme. Assim todos os meus sonhos dormem juntamente comigo. E. A qualquer momento, como no filme do kusturika «a vida é um milagre» a cama poderá sair das portadas que tenho no quarto e voar por de cima de todos os montes e casas. E de lá de cima avisto o meu princípe que olhava distraído para as estrelas, na sua varanda e numa das suas insónias, enquanto beberricava um chá. E eu, inocentemente perguntava-lhe: «queres boleia?» E ele: «para onde?». «Está. Eu deixo-te conduzir».
4º Terça. Hoje
Praia. Sem vento. Caminhada na praia.
Tenho aqui um apaixonado. O meu primo André. Tem cerca de 4/5 anos. Parece que nestas idades os miudos gostam muito de mim... Depois crescem. Hehehehe
Despues leitura. Um novo livro e outro que ainda estou a acabar. Cortar a relva. Estender-me ao sol no terraço. Estou com uma certa irritação solar... Mas também estou irritada de tanto querer ficar morena... Depois matei-me na bicicleta durante 30 minutos.
Depois de acabar de te escrever vou vestir qualquer coisita mais apropriado (aqui ando à vontade, de calças descaidas e cuequitas a verem-se e uma qualquer camisola que me apareça à frente, podendo a mesma não coincidir com o calçado. Estou de férias.) Mas agora vou dançar salsa. Não é muito o meu estilo de dança... O problema é que dança... É o meu estilo.
Beijinhos estrelados para uma estrela de mi corazon