CHICANEIRA

Não aos tabus!

Tuesday, July 27, 2004

Acordo com comichão do nariz e um cheiro intenso a camomila. Abro os olhos devagarinho e vislumbro os teus caracois loiros que me acariciam a cara e preenchem todo o meu horizonte. Estás de costas e aninhada em mim. Coloco uma das minhas pernas em cima da tua anca. A minha mão esquerda procura o teu seio quente que mal sente o meu toque fica em ponto de alerta. Mexes-te ainda a dormir, emites um gemido de prazer enquanto brinco com o teu seio.
Estamos juntos há mais de dois anos e parece que foi ontem que te mudaste para a minha casa. Sem ti o meu espaço estava vazio, sem eu o saber. Cada objecto velho ou novo obteve um diferente significado com a tua presença. A luz do meu apartamento, as cores, os cheiros, são agora outros. E tu ao pé de mim és tão frágil e tão forte ao mesmo tempo.
À medida que acordas devagarinho e vais-te entregando a mim não consigo deixar de pensar na bendita hora em que fui despedido e esbarrei contigo à saída do meu antigo escritório. Tinhas um vestido azul, e uns óculos com uma armação do século passado, mas que te davam um toque especial. Vinhas a falar sozinha. Tinhas tido um dia horrível porque a audiência de julgamento te tinha corrido muito mal: a testemunha - não obstante ter de dizer só a verdade - colocou os pés pelas mãos, e por causa disso quase que poderias perder o julgamento. Gesticulavas furiosamente, e eu entre os meus papeis amontoados que vinham até ao meu pescoço, calculei que te irias desviar ao último momento, pelo que olhei e continuei em frente. Mas não. Não me viste. E esbarraste contra mim. Até hoje.

Estás à minha procura?